quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Amarildo vira máscara de carnaval no Rio e família terá parte dos lucros

'Para não cair no esquecimento', sugere dona da fábrica de fantasias.
Ao menos 5 mil disfarces serão feitos e devem custar R$ 10 ao folião.

Nem o topete de Dilma Rousseff, nem a candura do Papa Francisco, nem os dentes de Ronaldinho Gaúcho. A aposta da fábrica de máscaras Condal, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, para o carnaval de 2014 traz à tona uma das perguntas mais repetidas no ano passado: Cadê o Amarildo? Em um acordo costurado com a família de Amarildo de Souza, o rosto do pedreiro vai estampar ao menos 5 mil máscaras que serão repassadas para lojas de fantasias e devem chegar ao consumidor final por cerca de R$ 10.

O acordo foi selado na tarde desta quinta-feira (23) e garante que parte dos lucros ficará com a família do pedreiro, vítima de tortura seguida de morte por agentes da UPP da Rocinha após uma abordagem policial. Se a aposta da fábrica Condal perde em humor, revive o espírito original do carnaval, em que súditos questionam a imunidade da realeza

"Todos nós somos Amarildo. São pessoas anônimas com casos semelhantes que acontecem todos os dias e caem no esquecimento. A máscara do Amarildo é para não cair no esquecimento", resume a dona da fábrica, Olga Valles.
A máscara já havia sido feita para o show "Cadê o Amarildo", estrelado por Caetano Veloso e Marisa Monte, no Circo Voador, na Lapa, em 2013. Mas, desta vez, será um pouco mais elaborada. Um QR code redirecionará o dono do produto que fotografá-lo a um site onde há explicações sobre o sumiço do pedreiro.
Antes de chegar às lojas, porém, ainda predominam no Centro da cidade a venda de máscaras infantis, como a da Galinha Pintadinha, ou a do personagem inglês Guy Fawkes, do filme "V de Vingança" — utilizada por diversos ativistas nos protestos da cidade. "Isso não é brasileiro. Não precisamos de uma máscara de fora", garante Olga. Por conta da lei estadual que proíbe o uso de máscaras em protestos, a "festa profana" reuniu as qualidades perfeitas para ganharem um viés crítico. "Só não gostamos que a pessoa vá para um protesto fazer baderna", adiantou Olga.

Outras apostas
Como as máscaras são "cíclicas", nas palavras dela, outros rostos conhecidos podem voltar a fazer sucesso no carnaval carioca. É o caso de Joaquim Barbosa, José Dirceu e José Genoíno. Com a morte do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, o nome do líder rebelde também surge como possibilidade.

"Este ano não temos uma grande personalidade", disse o diretor comercial da Condal, Albert Paris.
Até as eleições, o rosto de Eduardo Campos também será produzido em larga escala. Um protótipo foi feito, mas o artista plástico da fábrica ainda não encontrou a coloração ideal para os olhos azuis do provável candidato a presidência da República.

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