Álcool não é o único vilão no trânsito', diz especialista
Lei seca para motoristas, que entrou em vigor no dia 20 de junho, completa um mês.
PRF diz que principais causas de acidentes nas estradas são imprudência e velocidade.
Lei seca diminui mortes no trânsito
Os primeiros 20 dias de vigência da lei seca provocaram a redução do número de acidentes de trânsito, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde na quinta-feira (10). A Lei 11.705, que muda do Código Brasileiro de Trânsito, entrou em vigor no dia 20 de junho e provocou a mudança de hábitos na população. No entanto, especialistas em psicologia no trânsito e policiais rodoviários federais consideram que o álcool não é a principal causa de acidentes com veículos.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) registrou queda de 24% no número de resgates em 14 dos 144 postos do país. O levantamento preliminar cobre cerca de 25,3 milhões de pessoas. A maior queda dos resgates (47%) foi registrada na região de Niterói (RJ), onde vive 1,8 milhão de pessoas. Em Brasília, com uma população de 2,5 milhões de habitantes, a redução foi de 40%. Em Porto Alegre, a queda foi de 35% em uma região com 1,4 milhão de pessoas. O balanço do primeiro mês de vigência da lei, com a contabilização de ocorrências de todos os postos do Samu, deve ser divulgado em agosto pelo Ministério da Saúde.
“Essa curva de redução acontece porque cerca de 30% do volume de atendimentos do Samu é decorrente de acidentes envolvendo traumas. Desse percentual, a maior parte é de ocorrências de trânsito e, no Brasil, 50% dos acidentes de trânsito tem relação com bebidas alcoólicas. Existe, portanto, uma relação direta entre a lei seca e a redução do número de atendimentos do Samu”, diz Cloer Vescia, coordenador geral de urgências e emergências do Ministério da Saúde.
Para Vescia, a expectativa é de que essa queda permaneça nos próximos meses. "No início há uma fiscalização mais presente e mais rigorosa, mas nosso desejo é que isso se mantenha. Com os dados preliminares temos apenas uma tendência", diz.
De acordo com Salomão Rabinovich, diretor do Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito (Cepat), a bebida alcoólica é apenas um dos causadores de acidentes no trânsito brasileiro. “Temos outros fatores como as drogas ilegais, as drogas farmacêuticas, distúrbios de sono e problemas de personalidade. O álcool não é o único vilão dessa história toda.”
Rabinovich espera que a fiscalização contra o consumo de álcool por motoristas seja permanente. “A Polícia Militar precisa ser melhor equipada, pois é ela que tem competência para esse tipo de fiscalização. Mas quero ver quanto tempo vai durar esse trabalho no país todo.”
O psicólogo acredita que a solução para a redução de acidentes de trânsito é a mudança na postura dos motoristas. “É preciso fazer uma revolução cultural. Vivemos a pior crise moral e de credibilidade nos últimos anos. Essa medida (lei seca) precisa funcionar para valer, com fiscalização constante e em todos os cantos do país. Difícil vai ser conseguir ver isso”, disse Rabinovich.
Nas estradas
Segundo balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de 2007, a imprudência foi a principal causa dos acidentes nas rodovias brasileiras. O documento revelou ainda que 80,75% dos acidentes aconteceram em pistas em bom estado de conservação, 71,4% em retas, 53,6% durante o dia e 63% com tempo seco. Dos motoristas que se envolveram em ocorrências de trânsito, um terço reconhece que não prestaram atenção ao que estavam fazendo no momento do acidente.
Ainda de acordo com PRF, foram registrados 6.128 acidentes envolvendo flagrantes de alcoolemia ao volante em 2007. Um crescimento de 154% sobre os flagrantes realizados em 2006 (2.412).
VEJA AS TERRIVEIS FOTOS E A REPORTAGEM, SOBRE BEBIDA E DIREÇÃO.
A violência no trânsito brasileiro é um grave problema. A cada ano morrem cerca de 38 mil pessoas e 440 mil ficam feridas em acidentes. As causas em sua maioria são irresponsabilidade e álcool, ou os dois juntos. Se algo não for feito para alterar essa triste realidade no futuro será mais perigoso dirigir do que lutar em uma guerra.
“A cada ano dezenas de milhares de pessoas morrem em acidentes automobilísticos em todo o mundo, e outras centenas de milhares ficam feridas.
Nos Estados Unidos, o número de mortos anualmente no trânsito urbano e nas estradas é equivalente ao total de soldados americanos mortos em toda a guerra do Vietnã. Uma estatística do ano de 1993 nesse país mostrava que do total de mortes ocasionadas por todos os tipos de acidentes, 46% eram devidas a acidentes automobilísticos. O número de mortos em acidentes de carro superava em 60% o total das vítimas de homicídio.
NÃO ENTRE PARA ESTA TRISTE ESTATÍSTICA.
No Brasil, morrem anualmente cerca de 25 mil pessoas no trânsito. Em números absolutos, a quantidade de vítimas fatais em acidentes cresce continuamente: na década de 60 houve um total de 51.125 mortos, na década de 70 esse número subiu para 139.689 mortos e na década de 80 registrou-se 229.254 mortos. Entre 1992 e 1995, o número de acidentes nas rodovias federais do país aumentou 50,4% , o número de feridos cresceu 38,2% e o número de mortos registrou um crescimento de 21,4%.
Apesar desse aumento contínuo no número de acidentes e vítimas, as estatísticas demonstram também que, em termos relativos, o número de mortes em acidentes têm caído ao longo do tempo. Um levantamento feito pelo Departamento Nacional de Trânsito do Brasil mostra que o número de vítimas fatais para cada grupo de 10 mil veículos apresenta uma inequívoca tendência de queda a cada ano. Além disso, enquanto o número de acidentes cresceu nove vezes entre as décadas de 60 e 80, o número de vítimas fatais aumentou, no mesmo período 4,5 vezes.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário