domingo, 20 de julho de 2008

MORREU A DONA DA IRREVERÊNCIA, DERCY GONÇALVES

O velório da atriz Dercy Gonçalves, na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), será retomado nesta segunda-feira (21) a partir das 7h. Dercy foi velada neste domingo, das 10h às 19h.

Na segunda, às 9h, o corpo segue para a cidade natal da atriz, Santa Maria Madalena, região serrana do estado do Rio, onde ocorrerá outro velório, no Clube Montanhês, com banda de música e samba, a pedido da própria atriz.

O enterro está previsto para a terça-feira, ao meio-dia, no mausoléu da família.

O corpo da atriz chega a Santa Maria Madalena no dia da padroeira da cidade. "Ela vai chegar num dia de festa; a cidade está pronta para recebê-la ao som do samba da Viradouro de 1992, ano em que ela foi tema do enredo da escola", diz Decimar Senra, filha de Dercy.

Aos 101 anos, Dercy Gonçalves morreu às 16h45 de sábado (19) no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, Dercy foi internada na madrugada do próprio sábado, com um quadro de pneumonia comunitária grave, que evoluiu para insuficiência respiratória.

Foto: Aluízio Freire/G1
Aluizio Freire/G1
A atriz Marília Pêra compareceu ao velório de Dercy Gonçalves na Alerj(Foto: Aluizio Freire/G1)
Homenagens

Cerca de 450 pessoas, entre amigos e fãs, compareceram à Alerj para prestar homenagem a Dercy. Entre as flores que enfeitaram o salão do velório, estavam coroas enviadas presidente Lula e a primeira-dama e pela produção do programa "Domingão do Faustão".

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito da capital fluminense, César Maia, decretaram luto oficial no estado e na cidade em homenagem à atriz.

Entre os presentes no velório, estava a atriz Marília Pêra, que disse que sempre se lembra da amiga com “uma gargalhada, um grande deboche”. Marília, que vai dirigir um texto de Maria Adelaide Amaral sobre a vida de Dercy, defende que a atriz revolucionou a ribalta.

“O estilo novo do teatro brasileiro foi ela que trouxe. Quebrou todos os tabus do teatro clássico. Ela é a fonte muitas vertentes que estão por aí. E não dá nem para ficar triste. Mesmo na hora da morte eu acho que a Dercy traz uma alegria para a gente. Para chegar a essa idade, ela dizia que a receita era trabalhar e saber dizer não. Dizia que ia morrer quando ela quisesse. Eu tenho a impressão que agora ela quis.”

Foto: Aluízio Freire/G1
Aluizio Freire/G1
Marília Pêra e Stepan Nercessian no velório (Foto: Aluizio Freire/G1)

O também ator Stepan Nercessian também comentou a vida e a carreira de Dercy. "Era uma pessoa muito solidária. Se preocupava com os colegas. Espero que ela tenha esse reconhecimento, e não apenas de uma figura caricata, que falava palavrões."

Já o cantor e compositor Billy Blanco diz que Dercy foi uma “cantiga”. "Ela foi a alegria da ribalta e da platéia. Aliás, por falar em cantiga, deixo um recado para quem fica: haja o que houver, não pare de cantar. Ela foi uma mulher capaz em todos os sentidos. Deixa todas as lembranças"

O cantor Agnaldo Timóteo é outro dos amigos que presenciou o velório. Timóteo, que disse conhecer Dercy há 43 anos, afirmou que a atriz deixa uma lição sem igual, porque sabia “tirar sarro da vida”. “O homem lá de cima era fã dela porque a levou sem que ela sofresse, sem que ela ficasse em uma cama. Ela merece esse descanso”, falou.

Antes mesmo de o corpo chegar à Alerj, a atriz Virginia Lane, de 88 anos, companheira de Dercy nos espetáculos do teatro de revista, já estava na Alerj para prestar as últimas homenagens.


Foto: Aluizio Freire / G1
Aluizio Freire / G1
Dercy pode ser comparada a Carmen Miranda, diz Nelson Couto (Foto: Aluizio Freire / G1)

“Fiz questão de ser a primeira. Quero que ela saiba que eu fui a primeira a cumprimentá-la. Ela vai para um lugar que daqui a pouco eu também vou. Trago boas lembranças da Dercy, porque éramos muito amigas. E ela me dizia, quando era mais nova, 'você vai longe com essas longas pernas'."

Nelson Couto, da Confraria do Garoto, foi outro que prestou as últimas homenagens a Dercy, sem deixar de fazer uma crítica ao lugar escolhido, bem ao estilo do grupo irreverente.

“Ela não gostava de políticos e deveria ser velada no (Theatro) Municipal ou (teatro) João Caetano”, disse. “Ela nunca vai ser esquecida e pode ser comparada a Carmen Miranda”, acrescentou Nelson Couto.

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